Memórias de um teatro em obras
Atílio Alencar
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Há 17 anos, quando entrei pela primeira vez no Espaço Cultural Victorio Faccin (que na época chamávamos de TUI, trocando descuidadamente o nome do espaço pelo do grupo que o ocupava), lembro que fiquei fascinado e intrigado. A descoberta de um teatro - na época, ainda uma obra em progresso - de perfil popular, erguido e mantido pelo suor dos artistas-trabalhadores, causou-me encantamento e simpatia imediatos; por outro lado, a pouca atenção dispensada pela administração municipal ao espaço, que abrigava um patrimônio cultural de imenso valor histórico, não me pareciam compreensíveis.
Algum tempo depois daquele primeiro encontro, pude acompanhar ainda mais de perto a situação do Victorio Faccin (nome que homenageia o fundador do Teatro Universitário Independente) e dos seus corajosos artesãos de luta e de sonho. Por força do destino, recém-formado em História na UFSM e desamparado da moradia estudantil que a instituição me garantia, aconteceu de eu ser acolhido junto a outros colegas pelo pessoal do TUI, que conosco repartiram o teto de zinco furado e os poucos vinténs para o pão e o vinho.
Calhou de eu morar no Victorio Faccin durante um longo e insólito verão, do qual preservo na memória as intermináveis conversas sobre teatro brasileiro, literatura e política. Éramos então um bando de hippies tardios, mas já sem o deslumbramento com coisas astrais. Ríamos muito, mas nossos dramas compartilhados - a saber, a incerteza quanto ao futuro imediato dos nossos projetos e as próximas refeições - também nos faziam amargos vez ou outra.
Lembro, também, que, não raro, recebíamos a visita de algum grupo de estudantes de classe média, que sondavam entre a maravilha e o assombro aquele bando de cabeludos que habitava um teatro em construção. Algo naquelas situações me lembrava o fetiche que alguns intelectuais nutrem pela pobreza - alheia, convém ressaltar.
No fim das contas, creio que extraímos da adversidade nossa justa dose de diversão, e o amparo mútuo entre os que ali viviam me ensinou mais sobre solidariedade do que qualquer manual de boas intenções.
Ao fim daquele verão escaldante, seguimos nossos próprios caminhos, em grupos separados. Dediquei meus anos seguintes a um projeto que, em parte, elaboramos sob a sombra de um abacateiro no pátio do Victorio Faccin. Sempre que pude, busquei acompanhar, mesmo à distância, os rumos do TUI e do seu teatro de bairro no Rosário. Frequentei, talvez menos do que gostaria, peças, shows e festivais que o grupo promoveu ou hospedou.
Muitos anos depois, quando decidi cursar o mestrado, a escolha de contar a história do TUI, que começa lá nos longínquos anos 1960, foi o cumprimento de um pacto que fiz comigo mesmo no passado, quando revirava os cartazes, fotografias e programas teatrais do grupo. Minha perspectiva, já como historiador, exigiu uma abordagem metódica, objetiva, adequada às normas de pesquisa acadêmica. Mas jamais negaria que minha grande motivação como pesquisador foi a memória de um verão que nunca acabou.
Censurado
Fabiano Dallmeyer
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Graças a algum funcionário despreparado do Mark, a frase "será mesmo?" foi considerada discurso de ódio, e assim fiquei bloqueado na rede social por longos dias. A frase que postei estava seguida de um vídeo onde um condenado e ex-presidente se referia à cidade de Pelotas no RS, dizendo que a cidade era uma cidade polo, "exportadora de veado" (palavras dele). O aviso de censura, quer dizer, de bloqueio era de 7 dias, e eu poderia acatar ou contestar a decisão, claro que eu contestei, por ser totalmente injusta e sem fundamento, segundos depois veio a resposta, dizendo que afinal a minha postagem realmente violava as regras da comunidade e que eu ficaria bloqueado por 30 dias. Nada mais perfeito para a cara do Foice book.
As primeiras reações foram de uma fúria sem tamanho. Afinal, quem, em sã consciência e com um bom funcionamento ou exercício mental, conseguiria encontrar discurso de ódio na frase "será mesmo?".
30 DIAS DE TORTURA
Foram 30 dias de tortura. Ver as postagens de amigos com tantas fake news em relação a diversos assuntos, desde a pandemia aos ataques sem sucesso ao presidente eleito democraticamente Jair Messias Bolsonaro. Mas fiquei mesmo triste, por ter sido impedido de comentar, curtir ou postar.
Desde o início da censura, perdi de postar sobre o saudoso Vinicius Montardo Rosado, um dos escolhidos (nada mais justo!) para ser protagonista da campanha #UmPovoHeroico da SecomVc do governo federal. O Dia do Irmão passou, e eu não pude postar nada para meu. O Dia da Independência não teve desfile oficial na cidade, mas desfilou pela timeline eu perdi.
Com essa situação, deixei de defender as ações assertivas de vários governos em relação à Covid 19. Vi meu time ganhar algumas vezes, e não pude comentar com meus amigos as nossas alegrias. Meu time fez aniversário, fez uma "festa" online, eu não pude expressar o meu sentimento de amor pelo clube. O preço do arroz causou o maior "auê", com muita gente comentando tantas asneiras que eu me apavorava a cada postagem insana.
APRENDIZADO
A Semana Farroupilha começou, e isso para mim é mais importante que a Semana da Pátria. Amigos tornaram-se oficialmente candidatos a vereador. Veio o 20 de setembro! O Dia do Gaúcho! Tantos versos por publicar, tantas histórias para curtir. E dias se passaram. Houve Grenal pela Libertadores. Sim, meu time venceu. Que alegria. Tantas coisas passaram pela timeline. Algumas tenho anotado. Outras perdi.
Mas como há males que vem para bem, este período foi importante e de muito aprendizado. Não podemos nos enganar, não existe "meu perfil", bem como não existe liberdade de expressão.
Paz e muito amor, seja para quem for.